segunda-feira, 27 de setembro de 2010

            O amigo que aparece nesta foto chama-se Dirlenvalder Loyolla. O Dirlen é poeta, mestre em literatura brasileira pela UFMG, foi professor da Unilinhares em Linhares-ES, e atualmente é professor da Unimontes, em Unaí-MG. É autor do livro Poética da reflexão: um estudo sobre Grande Sertão: Veredas (2009). Conheço o Dirlen desde 1999, quando ingressei na faculdade de Letras da UFOP. É dele o texto publicado como posfácio no meu livro Os deuses comem pão e outros poemas. Guardo desde a época da UFOP a amizade de pessoas importantes como a Daniele Fardin, o Ednaldo Moreira e o Úmero.
            Reproduzo aqui o texto do Dirlen:



ENLOUQUESENDO O POSSÍVEL TEXTO
(posfácio)

Dirlenvalder Loyolla

            O R que falta ao BASIL–Edifício do poema-narrativa Os Deuses Comem Pão, de Marcos Vinícius Teixeira, não pode ser apenas o R comum da palavra Razão. O livro, também mosaico de idéias sobre a trivialidade da vida contemporânea, mostra-se, metalingüisticamente, também como questionador da existência humana, da aventura empírica do conhecer ante o explorar o mundo sem as graças da experiência. Para tal empenho, com efeito, nada mais apropriado do que a figura do criador (mais ainda: do criador-personagem dentro de um mundo extremamente confuso; um mundo de dados e verdades várias, fragmentadas sofias e de perda contínua do sujeito conhecedor (o sujeito que lia?).
            Em seu poema, Teixeira consegue captar bem o processo de perda do “ser pensante”, processo este iniciado a partir do desenvolvimento de nossa mentalidade ocidental tecnoconsumista. A técnica utilizada pode ser detectada a partir do momento no qual o autor cria um narrador “econômico” em seu discurso. A descrição dos personagens e dos ambientes, seguindo tal economia discursiva, consegue identificar eficazmente o processo individual de perda sofrido pelos “entes” do poema: os personagens, o edifício, as cidades, o Brasil.
            O universo dessa narrativa lírica teixeireana desenha-se através de cores “cansadas”, desbotadas e perdidas em seu transcurso original. As coisas não têm mais sentido, uma vez que tudo se resume numa massa compacta e feia, sem objetivo, limites ou desejo de perpetuação. As coisas parecem haver se acostumado a um estado deplorável de ser: mostram-se como coisas vendidas, prostituídas, esgotadas, mortas. Interessantemente, a perda de um centro instaura a confusão caótica de tal universo. É nesse sentido que a loucura evidente se torna a bandeira de todos os “possíveis personagens”, uma vez que, na ausência de um centro gerador, todos são possíveis personagens ou são, com efeito, centros geradores em potencial.
            Dentro desse mundo positivo e pragmático ainda existe espaço para uma contemplação metafísica, evocada unicamente através de um apelo simbolista. Tal apelo não poderia existir, logicamente, se não fosse a partir de um breve parênteses. No mais, a vida continua pulsando, mecanicamente, em sua superficialidade. Superficialidade de Minas? Superficialidade brasileira? Humana? O novo existe ou existe apenas a vontade do novo? A saída do tormento (se há saída de tal tormento) ainda estará, no futuro, ligada à fuga pela Arte? A humana condição humana jamais se libertará de sua essencialidade negativa, a qual anseia pelo resumo de tudo. A vida, mesmo assim, fornece-nos as chaves (que não funcionam, com certeza!) relacionadas ao mistério; e se não fossem essas entorpecências “amarelas” (pingas páginas) para tranqüilizar-nos a alma? “Enlouqueser” podemos. “Enlouquesomos” o que podemos ser; textos revistos a cada dia.

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