segunda-feira, 3 de março de 2025

Terra adentro: o percurso de um imigrante italiano

 

 

 

Luciano Cherubini, no livro Terra adentro: do vale do Rio Serchio à Serra Gaúcha, realizou com habilidade e agudeza a difícil tarefa de recontar a história de um personagem desconhecido de nosso país. O Brasil, como sabemos, foi construído e formado por uma infinidade de desconhecidos e investigar a trajetória de um estrangeiro, nesse caso, que para cá imigrou é tarefa útil e necessária, pois o relato da vida de um de nossos antepassados pode iluminar toda uma época que, distante no tempo, corria o risco de perder a sua significação.

Jornalista de formação e com mais de vinte anos de experiência na área, Luciano Cherubini nos conta, neste seu primeiro livro, a vida de seu tataravô, Guliermo Narciso Cherubini ou Guglielmo Cherubini, conforme a fonte que se consultar, que no Brasil adotou o nome de Guilherme. Nascido a 27 de maio de 1854, em Dezza, um pequeno povoado localizado próximo à província de Luca, na região italiana conhecida hoje como Toscana. No entanto, em 1854 ainda não havia ocorrido a unificação do país. Acompanhado de amigos, ele embarca no vapor Ville-de-Santos em Havre, na França, rumo ao Rio de Janeiro no dia 2 de setembro de 1876. A viagem se realiza graças a uma política de imigração do governo imperial brasileiro que incentivava a vinda de estrangeiros.

Terra adentro é uma obra rica em documentos, reproduzindo fotografias, jornais e mapas que auxiliam o leitor a desbravar as terras inóspitas do interior do Rio Grande do Sul para onde Guilherme Cherubini seguiu acompanhado de dois amigos. A colônia Dona Isabel, onde viveu naquele ano é hoje Bento Gonçalves. Em 1880 se casou com Illuminata Eccel, italiana que emigrara com a família para o Brasil e vivia no mesmo povoado gaúcho. Estar casado, na época, era uma condição para que Guilherme pudesse comprar lotes de terra distribuídos pelo governo. Vizinha à Dona Isabel estava a colônia Conde D’Eu que em 1900 se eleva à condição de município, tornando-se Garibaldi. No ano seguinte, Guilherme Cherubini é eleito conselheiro municipal de Garibaldi, cargo correspondente hoje ao de vereador, ensina-nos Luciano em seu livro.

O contexto da Primeira República pode ter trazido benefícios ao imigrante italiano e pode ajudar a compreender a importância que ele possuiu na região. Num período que ficou conhecido pelo voto de cabresto, marcado por eleições fraudulentas, atas falsas, e no qual os resultados das eleições podiam ser alterados posteriormente por grupos poderosos do país, é significativo observar que nas eleições de 1911 a casa de Guilherme Cherubini aparece como endereço de uma das sessões eleitorais do município, onde 50 pessoas deveriam depositar o voto. Antes, em 1907, como lemos no livro de Luciano, Guilherme foi nomeado tenente do primeiro esquadrão da Guarda Nacional.

Em Terra adentro também se registra a passagem da família de Guilherme Cherubini por Encantado (RS) e depois por Tangará (SC). Dentre os diversos descendentes mencionados no livro, destaca-se o filho João e o seu neto Claudino Cherubini que chegou criança a Tangará acompanhado do avô italiano. Guilherme faleceu nesta pequena cidade, em 1944, aos 89 anos. O livro de Luciano Cherubini, nesse sentido, também registra a continuidade da família de Guilherme que prossegue viva, desdobrada em várias outras famílias, em diversas partes de nosso país continental. Essas histórias, claro, poderão ser contadas em outros livros.

 

 

 Marcos Vinícius Teixeira

Campo Grande (MS), 03/03/2025

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Situação do coreto de Oscar Niemeyer em Caratinga - 2025

 

 

Em 2014 fiz uma postagem aqui denunciando a reforma que estava em curso no coreto de Oscar Niemeyer na minha cidade natal, em Caratinga - Minas Gerais. Sempre me pareceu um completo equívoco as modificações pelas quais o coreto passou. Posto agora, em janeiro de 2025, fotos do estado atual de nosso patrimônio artístico para que todos possam ver a sua situação. Fechado em suas vidraças, os pedaços de mármore que se descolaram e as infiltrações diversas me lembraram a imagem de um túmulo abandonado. Ou talvez seja o movimento poético da vida impulsionando a obra a se libertar da máscara de pedra que lhe foi imposta?


(Fotos do coreto de Oscar Niemeyer realizadas no dia 17/01/2025.)