terça-feira, 29 de maio de 2012

In-Verso

Marcos Teixeira

O livro In-Verso (2012), de Thalita de Oliveira Freire, apresenta um rico e interessante diálogo com o gênero conhecido como literatura de cordel. O tom de sua poesia, marcado por um regionalismo e uma dimensão coloquial, já revela o diálogo que também se confirma na utilização da palavra cordel, utilizada em dois poemas. Essa poesia que conta estórias também nos conta sobre a própria poetiza nascida em Curvelo e vinculada desde cedo a Cordisburgo.
A dimensão de sua poesia e a presença da pequena e famosa cidade deixa entrever o seu gosto pela prosa de João Guimarães Rosa. O último poema do livro, “Chico Mineiro e Riobaldo”, traz vivo o personagem rosiano e a sua especulação sobre a vida e a possibilidade de ter ou não feito o pacto com o diabo. A presença do mito cristão, aliás, nos remete a um tema recorrentemente utilizado pela literatura de cordel e por isso aparece sem destoar dos outros poemas.
Thalita de Oliveira Freire parece trilhar, por outro lado, um caminho feito por João Cabral de Melo Neto, em que os elementos regionalistas, por um lado, se encontram bem adequados a uma poesia de traço clássico, metrificada e feita com agudeza. Refiro-me ao poema-auto “Morte e vida severina”. É preciso, assim, e se for o caso, que Thalita se debruce sobre os inóspitos tratados de metrificação para trazer de lá a sua mesma poesia, mas em molde diverso e aparentemente simples.
In-Verso possui também uma edição artesanal, com capa feita em papelão e pintada à mão. Por isso cada exemplar é único, bem ao gosto do cordel. Não tenho mais o que dizer por hora e por isso termino como um de seus poemas: “Agora vou logo embora, / porque alguém pra aumentar já que aparece”.