Marcos Teixeira
O livro In-Verso (2012), de Thalita de Oliveira
Freire, apresenta um rico e interessante diálogo com o gênero conhecido como literatura
de cordel. O tom de sua poesia, marcado por um regionalismo e uma dimensão
coloquial, já revela o diálogo que também se confirma na utilização da palavra cordel, utilizada em dois poemas. Essa
poesia que conta estórias também nos conta sobre a própria poetiza nascida em
Curvelo e vinculada desde cedo a Cordisburgo.
A dimensão de
sua poesia e a presença da pequena e famosa cidade deixa entrever o seu gosto
pela prosa de João Guimarães Rosa. O último poema do livro, “Chico Mineiro e
Riobaldo”, traz vivo o personagem rosiano e a sua especulação sobre a vida e a possibilidade
de ter ou não feito o pacto com o diabo. A presença do mito cristão, aliás, nos
remete a um tema recorrentemente utilizado pela literatura de cordel e por isso
aparece sem destoar dos outros poemas.
Thalita de
Oliveira Freire parece trilhar, por outro lado, um caminho feito por João
Cabral de Melo Neto, em que os elementos regionalistas, por um lado, se
encontram bem adequados a uma poesia de traço clássico, metrificada e feita com
agudeza. Refiro-me ao poema-auto “Morte e vida severina”. É preciso, assim, e
se for o caso, que Thalita se debruce sobre os inóspitos tratados de
metrificação para trazer de lá a sua mesma poesia, mas em molde diverso e
aparentemente simples.
In-Verso possui também uma edição artesanal,
com capa feita em papelão e pintada à mão. Por isso cada exemplar é único, bem
ao gosto do cordel. Não tenho mais o que dizer por hora e por isso termino como
um de seus poemas: “Agora vou logo embora, / porque alguém pra aumentar já que
aparece”.
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